quinta-feira, 12 de abril de 2012


A tinta escorre da caneta
Como sangue de um corpo ferido
Ou lágrimas que rolam ao acaso.
O papel insiste em sorvê-los
A tinta, o sangue e as lágrimas
E com eles sorve também
lentamente minha vida.
O resultado não são sentimentos de Shakespeare,
Apenas palavras confusas
Frases mal-traçadas
Sem aparente sentido ou lógica.
Meus lábios, secos, há muito
Já não conhecem outros.
Há muito o gosto amargo
da solidão permanece
inerte em minha boca.
Fujo desesperadamente da realidade
Como o homem foge da morte.
Não há nenhuma fuga,
Os fantasmas da consciência
Me perseguem e alcançam
E sofríveis memórias retrovisuais
Me tomam de assalto.
Concluo que neste mundo
Que perdeu toda a lucidez
(os poetas nunca a tiveram)
a única saída é retornar
ao papel, à caneta, e permitir
que dela continuem a escorrer
as gotas de minha vida
e suas palavras confusas
me façam entender
esta inexplicável vontade
de viver.
                                            18/08/95

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