A tinta
escorre da caneta
Como sangue de
um corpo ferido
Ou lágrimas
que rolam ao acaso.
O papel
insiste em sorvê-los
A tinta, o
sangue e as lágrimas
E com eles
sorve também
lentamente
minha vida.
O resultado
não são sentimentos de Shakespeare,
Apenas
palavras confusas
Frases
mal-traçadas
Sem aparente
sentido ou lógica.
Meus lábios,
secos, há muito
Já não
conhecem outros.
Há muito o
gosto amargo
da solidão
permanece
inerte em
minha boca.
Fujo
desesperadamente da realidade
Como o homem
foge da morte.
Não há nenhuma
fuga,
Os fantasmas
da consciência
Me perseguem e
alcançam
E sofríveis
memórias retrovisuais
Me tomam de
assalto.
Concluo que
neste mundo
Que perdeu
toda a lucidez
(os poetas
nunca a tiveram)
a única saída
é retornar
ao papel, à
caneta, e permitir
que dela
continuem a escorrer
as gotas de
minha vida
e suas
palavras confusas
me façam
entender
esta
inexplicável vontade
de viver.
18/08/95
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