terça-feira, 23 de setembro de 2014

Jovem, 28 anos, professor de português e inglês, autor de “Mulheres de Carvalho” e deA Rua do Sol e da Lua”, corintiano de Caxias do Maranhão, terra que nos deu Gonçalves Dias, pai de família e um poeta absolutamente genial. Conheça mais sobre Carvalho Junior em uma entrevista muito lúcida, onde o poeta se revela maduro e no controle de seu trabalho poético.

por JM della Rosa


T&QP – Carvalho Junior, a gente não poderia começar de outra maneira. Por que Corinthians?

Carvalho JuniorDá até vontade de cantar a resposta ao lado do Toquinho. Vou tentar resumir a história. Eu torço pelos times do Maranhão, gosto do Sampaio Corrêa, mas a paixão não considera limites geográficos. De pai e irmão são-paulinos, eu ouvia minha querida genitora (corintiana roxa) falar dos gols feitos com o calcanhar pelo Sócrates, era muito fã do futebol jogado pelo Marcelinho Carioca.  O Corinthians é uma paixão de menino. Meu pai comprava conjuntos de roupas de outros times, mas eu gostava mesmo era do Timão. Acompanhei com muita emoção os títulos do Paulistão e Copa do Brasil de 1995. Escutei minha mãe e sou muito feliz por isso. (risos)


T&QP – Já que nos contou esta, conte-nos também um pouco de sua história, da sua vida, da sua profissão, enfim.

Carvalho JuniorNasci numa tarde de sexta-feira do dia 04 de outubro de 1985, no Hospital Miron Pedreira, em Caxias-Maranhão, do ventre da guerreira Antonia Ferreira por meio de um parto cesariano. Tenho, portanto, 28 anos de experiências existenciais. Sou casado com dona Joseneyde Ferreira (dona do meu desejo de ser feliz ao lado de uma mulher) e com ela tenho duas filhas lindas: Júlia Clarissa e Camila Jasmine.
Sobre minha profissão, nem tudo são flores, mas os espinhos na estrada do meu trabalho como professor não me abatem. Gosto muito de estar “próximo do próximo”, de sentir o cheiro de gente e essa possibilidade de interferir positivamente na vida de pessoas é o que me faz brilhar os olhos e vencer as diárias dores nas costas provocadas pelos solavancos do caminho.


T&QP – Já pensou em sair de Caxias? O que te prende a tua terra?

Carvalho JuniorPensei muitas vezes em deixar “A Princesa do Sertão Maranhense”, mas sou muito ligado à família e ao meu torrão natal. Quero, em parceria com homens e mulheres possuidores de boa vontade, cuidar da característica cultural de Caxias. O que eu mais gosto na minha cidade é, justamente, o que ela inspira por ser tão rica histórica e culturalmente.


T&QP – Carvalho Junior acredita em Deus?

Carvalho JuniorDeus é a minha fortaleza. Não frequento, hoje, nenhuma congregação religiosa. Não sou nenhum fanático, mas respeito muito o nome de Jesus. Eu queria poder acreditar mais nos homens, mesmo o texto bíblico nos advertindo que “maldito o homem que confia no outro”. Eu acredito no respeito, na tolerância e no amor. Graças ao Todo-Poderoso, eu tive e tenho a felicidade de encontrar com anjos nas veredas da vida. 


T&QP – Bem, vamos falar de poesia? Quando você começou e o que te levou a escrever?

Carvalho JuniorDesde menino eu alimento no íntimo o sonho de ser um escritor. Em datas especiais, eu sempre ofertava versos, mensagens ou cartinhas para os meus pais. Eu tive grandes professores que despertaram em mim o gosto pela leitura. Gostava, sobretudo, de revistas de humor. Quando conheci Gonçalves Dias e Cecília Meireles, fui sequestrado de vez para o universo da poesia. Passei a me dedicar mais à escrita a partir dos 14 anos. A vida vem escrevendo histórias sobre a minha pele e as marcas dela são o que me levaram e levam a escrever sempre. Escrever é para mim uma necessidade vital.


T&QP – Em que gênero e sobre o que você gosta de escrever?

Carvalho Junior – Escrevi apenas um conto intitulado “UM MARANHÃO DE AMOR”. No mais, até hoje, toda a minha entrega ao gênero da poesia. Gosto de sentir e de exercitar a minha sensibilidade. Gosto de escrever sobre os mais diversos assuntos, mas, principalmente, sobre o homem e suas complexidades, investindo muito no humor. Fui 3º colocado, categoria melhor poesia, no 1º Festival Caxiense de Poesia, realizado no ano de 2008. Já recebi homenagens em creches e escolas várias, na Universidade (UEMA) e no desfile de 07 de setembro do ano de 2011 pela Escola Maria Luíza. Fui empossado, em novembro de 2011, membro efetivo da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA).


T&QP – Quais são seus projetos atuais e para o futuro?

Carvalho JuniorProcuro estar sempre participando de eventos culturais no meu estado. Em parceria com o poeta Salgado Maranhão e artistas da minha cidade, estou envolvido na promoção de um Sarau que deve acontecer, conforme a ideia original, de três em três meses. Além do Sarau, pretendo formar um grupo de declamadores de poesia pelos diversos ambientes de Caxias. Planejo para o futuro a publicação de um projeto infantil/infantojuvenil e fazer um curso de mestrado na área de letras.


T&QP – Poeta, nós sabemos de sua admiração pelo seu conterrâneo, o gigante Gonçalves Dias. Qual é o seu poeta preferido? Qual a influência dele na sua obra?

Carvalho JuniorGonçalves Dias é especial para mim porque representou o meu despertar para a poesia, tive um encontro não marcado (muito marcante) com os versos dele. Fui tocado pelos versos de “Se se morre de amor!”. Na época, eu era um estudante do ensino fundamental e anotei aqueles versos no verso da folha de matéria de Língua Portuguesa como quem guarda um tesouro. Tenho vários poetas prediletos, principalmente os modernistas brasileiros como Drummond, Quintana, Bandeira, Vinicius, João Cabral, Leminski e Cecília. Esses autores citados e muitos outros que li (não apenas poetas), creio que todos influenciam, confluenciam e desfluenciam, posto que somos resultado de tudo aquilo que lemos. O que autor nenhum deve fazer é tentar imitar o outro, porque o leitor é inteligente e sabe detectar os pasticheiros de plantão. Sou um estudioso, um pesquisador, um curioso que procura conhecer os trabalhos dos poetas atuais e do passado, mas guiado pelo próprio faro, tentando descortinar caminhos, sentindo o que se esconde debaixo da pele da pele da pele.


T&QP – Quantos livros você já publicou? Quando sai o próximo?

Carvalho JuniorJá dividi com o público Mulheres de Carvalho (Café & Lápis, São Luís, 2011) e A Rua do Sol e da Lua (Scortecci, São Paulo, 2013). Antes disso, atendendo aos pedidos de professores e amigos, publiquei uma revista trocadilhesca intitulada Linguichistes: poemas em portuglês (o termo portuglês sugere a junção de português + inglês). Em breve, o meu terceiro livro de poesia - Dança dos dísticos, editado pela Patuá (São Paulo),  estará disponível a todos.


T&QP – O norte e o nordeste do Brasil sempre foram culturalmente muito ricos. Como você descreve a atual produção poética no Maranhão?

Carvalho JuniorO Maranhão poderia até se chamar Literanhão dada a sua tão forte característica literária. A produção poética maranhense é muito bem defendida por nomes de gigantes como, por exemplo, Ferreira Gullar, Nauro Machado, Salgado Maranhão, Luis Augusto Cassas e tantos outros. A lista é muito grande tanto de autores vivos (física e literariamente) como de autores que partiram pra outra dimensão, ficando eternizados em nossa memória.   A cidade de Caxias sempre contribuiu para a força desse panteão. A rede social me possibilitou o contato e a aproximação com muitos dos nossos bravíssimos poetas.

T&QP – Recentemente você visitou a já lendária Casa Amarela em SP. Conte-nos um pouco desta experiência. O que você levou/trouxe consigo dela? Que diferenças você vê entre a poesia maranhense e a paulista?

Carvalho JuniorVivi um colorido de emoções na minha viagem a São Paulo. Na Casa Amarela, fui recepcionado com muito carinho por muitos artistas maravilhosos que conhecia apenas do convívio virtual. Foi muito bom abraçar e ser abraçado por todos eles. Nunca me esquecerei daquela noite. Fiquei encantado com tudo que vi/ouvi e pretendo voltar lá outras vezes.  Conheci também a Casa de Farinha e o Hussardos Clube Literário, lugares onde tive contato com outros espetaculares artistas. A boa e verdadeira poesia tem um caráter universalizante. O mapa literário brasileiro é rico como um todo.


T&QP – Que papel você acha que desempenha a internet na divulgação da poesia?

Carvalho JuniorÉ um bom canal, excelente alternativa, mas precisa ir além. Poesia necessita estar nos becos, nas ruas, nas casas, nos telhados, nos quintais... no meio da gente.


T&QP – Como você acredita será o futuro da poesia?

Carvalho JuniorHá quem pense que a poesia não representa futuro algum. Digo, pois, que o próprio futuro do universo depende do futuro da poesia. O mundo acabará no dia em que não houver mais nenhum corajoso para carregar a bandeira dessa que chamo de “a senhora do verso”. É tanta feiura (violência e uma série de outros males) que a gente vê espalhada por aí que só a poesia para nos banhar de belo. A luz da poesia é inapagável.



T&QP – O que é que te inspira?

Carvalho Junior – Inspiro, expiro, transpiro, perspiro, respiro poesia. Tudo o que me provoca me conduz ao ato de escrever, de metaforizar, de jogar com as palavras.


T&QP – Defina Carvalho Junior.

Carvalho JuniorUm sonhador, um apaixonado pela vida, um Chico cambitas finas metido a poeta. (risos)


T&QP – Defina a obra de Carvalho Junior em uma palavra.

Carvalho JuniorConstrução.


T&QP – Que mensagem você gostaria de deixar para a posteridade?

Carvalho JuniorSolto no vento um dístico do meu “Dança dos dísticos”:

Exercício da sensibilidade

se quiseres entender o poeta,
não abres o livro, desabotoa os vestidos dos sentidos.

__


 Outros poemas de Carvalho Junior:


deixemos de prosa e virar página em branco.
o outro lado da vida está no verso.

"Prosa Desfolhada" in A Rua do Sol e da Lua (Scortecci)



"good" brincadeira de criança
agora que somos adultos
somos nós que caímos no buraco.

"Bola de Gude" in Linguichistes


Faça os downloads dos livros de Carvalho Junior nos links abaixo:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/4786778
http://www.4shared.com/office/9IRt4S4gce/a_rua_do_sol_e_da_lua_de_carva.html


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Ou pelo e-mail poetacarvalhojunior@yahoo.com.br 



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quinta-feira, 18 de setembro de 2014




O Sorriso
para Isabel Mantovan

A imagem que de ti carrego
não é a tua imagem última, que não era a tua
nem a dos anos de dor e perucas
(mesmo neles teu sorriso resplandecia
e continuava forte e bonito)
aquilo tudo uma piada de mau gosto.

Contigo aprendi um novo sentido
mais abrangente da palavra amizade.
Sei que agora não podes me ouvir.
Não me perdoo não te ter dito
enquanto ainda era tempo
o que ia aqui por dentro e devias saber.
Agora acumulam-se os anos de tua ausência
e teu rosto vai-se apagando nas areias da memória.
Mas não quero perder o que me restou de ti:
teu sorriso verdadeiro e bonachão
teu carinho singelo e fraternal.
A imagem que busco preservar de ti
é a da irmã-mãe-companheira-amiga
a imagem da fé e da lealdade
a imagem da unanimidade do afeto.

Quando tu voltares (e sei será logo)
contar-te-ei da dor de teu amado
do orgulho no olhar de tua filha
e que a tua foi a despedida mais triste.

Contar-te-ei mais, irmã.
Falar-te-ei do privilégio que foi
ter sido teu amigo.




Jai Matos della Rosa
imagem: foto da coleção de Dani Oliver
 
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