terça-feira, 12 de agosto de 2014

          Paulistano, 60 anos, morador de Embu das Artes, casado há mais de quarenta com (palavras dele) “a linda Marcia”, pai de Renata e Luciana. Este é Nelson Bortoleto, poeta de talento definido, que possui uma visão peculiar da vida e da poesia. Toda & Qualquer Poesia teve o privilégio de um bate papo com esta “figura” do meio literário. Confira agora o resultado.
por JM della Rosa


T&QP – Nelson Bortoletto, como é a experiência de estar casado há 40 anos? Qual é o segredo de um casamento de sucesso?
Nelson Bortoletto – Sou de uma geração estranha. Por um lado o sentimento de liberdade, a revolução sexual e de costumes, Beatles, Rolling Stones, Martin Luther King, Guerra do Vietnam, etc. Por outro os valores mais tradicionais de família e convivência cívica. Eram outros valores. Inclusive nas relações afetivas. Deve ser por causa disso.

T&QP – A poesia já prejudicou o seu relacionamento?
Nelson Bortoletto – O relacionamento foi muitas vezes difícil por conta da boemia, mas nos damos amorosamente.


 "Não gosto dos minimismos, do poema que tem que ser decifrado como a um hieróglifo."
T&QP – Qual é a sua profissão?
Nelson Bortoletto – Atualmente sou diretor comercial de uma Empresa de Execução e manutenção de áreas verdes, em São Paulo. Ao longo da vida, sempre fui metalúrgico na área comercial.

T&QP – Por que Embu das Artes?
Nelson Bortoletto – Na verdade não escolhi. Mudei-me para lá em 2009 por razões profissionais (proximidade do trabalho) e acabei ficando, mesmo depois de me desligar da tal empresa. Gosto dos amigos que fiz por lá, músicos, pintores, poetas, atores, palhaços, bêbados, boêmios de toda ordem... um manancial de temas para poetar!
  
T&QP – Nelson Bortoletto acredita em Deus?
Nelson Bortoletto – Acredito, sim. Numa Inteligência criadora e incomensuravelmente poderosa, da qual sou parte integrante e com uma função a cumprir na ordem geral do Universo. Tendo a estudar a Teosofia.

T&QP – Falando de sua carreira, quando você começou e o que te levou a escrever?
Nelson Bortoletto – Desde pequenino, nas redações escolares. O gosto pela leitura, a curiosidade sobre as coisas do mundo, minha paixão pelas pessoas e coisas, finalmente me levaram a exercitar a construção de poemas.

T&QP – Você já pensou em parar?
Nelson Bortoletto – Já pensei em parar, mas, não consigo. Às vezes irrito-me com o fato de que as pessoas (na média) não foram educadas para a leitura mais reflexiva e isso me deprime um pouco.

T&QP – Além de poesia, o que mais você escreve?
Nelson Bortoletto – Sou amador. Às vezes escrevo prosa poética, crônicas, pensamentos... tudo o que me vem à cabeça sem formalismos de nenhuma natureza. Escrevo até palavrão!

T&QP – Qual é o seu poeta preferido?
Nelson Bortoletto – Os grandes. Seria uma injustiça exaltar um ou outro. Prefiro sempre os que escrevem com simplicidade, sem refinamentos inúteis, por exemplo: Mario Quintana, Drummond, Manoel de Barros, Manuel Bandeira, Cora Coralina, Cecília Meirelles e muitos outros.

T&QP– Fale um pouco de como foi sua experiência independente.
Nelson Bortoletto – Meu livro é uma modesta brochura em que fui autor, revisor, diagramador e desenhei a capa e encadernei à mão! O nome é “Falando da Vida“. Eu os vendi a turistas, na rua.

T&QP – Quais são seus projetos atuais?
Nelson Bortoletto – Tenho convite para publicar mais. Um deles já está pronto, é só imprimir. Não tenho editor, é difícil um que invista num poeta desconhecido.

T&QP – Como você vê a atual produção poética de língua portuguesa?
Nelson Bortoletto – Não gosto dos minimismos, das ideias confusas, do poema que tem que ser decifrado como a um hieróglifo... isso agora virou moda, mania de pseudointelectuais.

T&QP – Sempre houve muita intriga e discórdia no meio literário. Além da questão dos egos, aqueles que estão engajados em determinado movimento poético ou fazem um tipo específico de literatura usualmente consideram aqueles que não se enquadram nele como menores, ou, de outro lado, ultrapassados. Foi assim, por exemplo, quando surgiu o Modernismo? Como você vê toda esta questão? Você acha possível, por exemplo, um poeta escrever poemas longos ou mesmo fazer rimas hoje?
Nelson Bortoletto – Escrevo o que me dá na telha, com ou sem rima, com ou sem métrica, versos ou Inversos, desde que façam sentido. Não sou contra nada, gosto ou não. Se não gosto, leio uma vez só e não recomendo. Afinal, não se pode criticar o que não se conhece. Não acredito em “movimentos”, os rótulos são adotados pelos mais obtusos, que não têm recursos para viajar de várias maneiras. Estilo é uma coisa tão pessoal, que não justifica rótulo.

T&QP – Nelson Botoletto já se acostumou com o Novo Acordo Ortográfico? O que pensa dele?
Nelson Bortoletto – Sou coroa! Difícil me acostumar, mas tento. Quanto ao acordo, acho que tira um pouco o brilho das diferenças culturais e linguísticas, prefiro pesquisar aquilo que não compreendo e isso leva, não só ao conhecimento, mas ao ecletismo.

T&QP – Que papel você acha que desempenha a internet na divulgação da literatura lusófona?
Nelson Bortoletto – A internet é um avanço espetacular na difusão do conhecimento, pena que seja tão mal utilizada pela maioria dos bilhões de usuários. E já que falamos em lusofonia, pra que reforma ortográfica, se cada lusófono é único?

T&QP – Como você acredita será o futuro da poesia?
Nelson Bortoletto – Depende do que os governos fizerem da educação. Do jeito que ela anda, não vejo nenhum futuro, do ponto de vista acadêmico, mas enquanto poesia certamente sobreviverá.

T&QP – O que é que te inspira?
Nelson Bortoletto –  A vida, suas humanidades e desumanidades. A existência do grande espírito que governa o mundo, sem o que não passamos de animalidades.

T&QP – Defina Nelson Bortoletto.
Nelson Bortoletto – Um cara normal, que tem sensibilidade para enxergar de um modo peculiar a vida e o dom de escrever a respeito.

T&QP – Defina a obra de Nelson Bortoletto em uma palavra.
Nelson Bortoletto – Pequena.

T&QP – Que mensagem você gostaria de deixar para a posteridade?
Nelson Bortoletto – Eu amei o mundo!





Deu-me o destino
A incumbência de gostar das palavras,
Porque, por trás delas há o mundo
E o mundo é fascinante.
Eu as utilizo num rompante, 
Pois medi-las é só retórica. 
Não há nenhuma palavra histórica 
Que não tenha atrás de si, o Homem. 
E se o homem é Semelhança, 
Que permaneça criança 
Para não medir as palavras. 


- Nelson Bortoletto





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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
Como um palhaço, que desengonçado, 
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado 
De uma ironia e de uma dor violenta. 

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço. . .

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

"Acrobata da Dor" - Cruz e Souza

sábado, 9 de agosto de 2014

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Jan Veth (auto-retrato)

Apenas um homem
com febre de versos:
minha sã imagem
nua até aos ossos.

- António Barahona 
(poeta português)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014




na escuridão vazia
                   caminho para o teu longe
perdido.


                                      tu luas sobre mim.
eu te encontro-me.




JM della Rosa
 
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