Preciso do grito
mas não posso gritar.
Preciso, necessito do grito
porém o grito fere os ouvidos
de todos os que não querem gritar.
Dependo do barulho libertador do grito.
No grito o silêncio é rompido.
A vida se exalta no barulho
simples, duro e espontâneo
que espanta para longe
a dor, o horror, o medo, o tédio.
Mas não posso gritar.
O grito incomoda vizinhos
assusta crianças e bichinhos
cães, gatos e passarinhos
e tudo o mais que rimar com inho.
Grito rima com ão
com a explosão de um vulcão
calado, contido
reprimido de sua intensidade
como se fosse qualquer outra rocha
outra montanha sem vida.
Mas o vulcão não é.
Um dia o vulcão grita
e grita num maravilhoso estrondo de liberdade.
Mas eu não posso gritar.
Permaneço calado, frio e duro por fora
como aquela rocha morta.
Minha alma inquieta, apressada
em intensa ebulição, permanece
desejando, almejando o grito amigo
que virá sem dúvida, trazendo o alívio.
Mas eu, eu não posso gritar.
Se eu gritasse seria mais leve
minha alma mais límpida
e minha mente ficaria livre
completamente livre dos anseios
dos temores e dos rumores.
Mas não, não posso gritar.
Todos me tomariam por louco
(quando loucura é não poder gritar)
e a sanidade é o pouco que me resta.
Embora ora não pareça
tenho meus bons momentos de lucidez.
Nos demais, continuo com vontade de gritar.
dez/12
Jailton Matos
segunda-feira, 30 de abril de 2012
sábado, 28 de abril de 2012
A vida começa nos
jardins
e no princípio tudo é
muito
mais belo e colorido
entre flores.
A rosa cravada em
espinhos –
há nela a essência e
o perfume
das mais
surpreendentes emoções –
síntese de delicadeza
e perfeição
in un perfetto
paradiso
te empresta beleza e
charme
e é agora simples
graça
e sedução,
gentilmente
presa em teu vestido.
Em ilusões criadas
à partir de
fragrâncias
é neles que me perco
completo
em teus braços e
beijos de
rebelde fiore e
selvagem
e adormeço ainda
entorpecido
pela mesma menina
fria
“bella come la luna
piena,
pura come il fulgido
sole”*
e sempre acordo
depois
com o gélido orvalho
sobre mim
resfriando e
aumentando a dor
di amore immaturo e
possessivo
e me levando aonde é
mais forte
mia amata solitudine.
Então me vejo
correndo
fugindo de ti e de
mim
estupidamente veloz e
aleatório
em campos e colinas
floridas
ou imóvel e
depressivo
enraizado junto ao
chão
como uma orquídea
maldita
num jardim de Burle
Marx.
A vida começa nos
jardins
e às vezes termina
neles.
19/10/96 0:37
* Cântico de Salomão 6:10
Jailton Matos
sexta-feira, 27 de abril de 2012
O Ruído
O ruído
Som sem
sentido
Destrói de
passagem
A mensagem
pensada.
O ruído
Teme o gemido
Geme o sentido
Perturba,
conturba.
O ruído
Contrai as
idéias
Distrai as
platéias
Desvia o
sentido.
O ruído
Roda incomoda
Agita irrita
O sentido
perdido.
O ruído
É alarido
estampido
Barulho puro
Duro em pancadas
Frases mal
traçadas
Sem aparência
lógica
De
conveniência ecológica
E demência
declarada
No objetivo
furtivo
De apenas
penar
A concentração
quebrada
Pelo próprio
ruído.
O ruído
Convém
convencido
Contar
peripécias
Sustendo
inépcias.
O ruído
Não mais
ouvido
Dança cansa
cala-se
Vencido pelo
sentido.
30/08/95
Jailton Matos
quinta-feira, 26 de abril de 2012
A Visão
Eu vi uma menina
Eu vi uma menina
Dessas que
parecem mesmo
Uma boneca de
louça
E ela tinha
movimentos
Sorrisos,
gestos, vida
Na dança da
inocência.
Eu vi bebês
ingênuos
Traquinando
com monossílabos
E fazendo
poesia no olhar
Para mamães de
areia
Que se
derretiam ao calor
De raios
trêmulos de sol.
Eu vi crianças
jogando
Esconde-esconde
nas nuvens,
Pequenos
perdidos de Peter
Voando sem
perlimpinpin
Viajando em
quimeras
E panteras do
tempo.
Eu vi a
filarmônica angélica
Pairando
beleza translúcida
Executando com
estilo único
A sinfonia do
amanhecer
Proibida, em
tom divino,
A nossos
ouvidos terrenos.
Eu vi um bale
clássico:
Querubins e
serafins dançando
Sobre notas de
cristal.
Eu vi anjos em
queda livre
E um menino
travesso
A derrubá-los
com pedras de bodoque.
21/09/95
Jailton Matos
domingo, 22 de abril de 2012
Sobre as Nuvens
Aqui em cima
Aqui em cima
onde o céu se confunde ao mar
(alquimia de nossa imaginação)
entre a densa neblina de paz
e o tempo parece não existir
ou não se incomodar em correr
o perigo é ainda mais fascinante
e a palavra liberdade e sua
possibilidade, parecem assumir
novas dimensões, novo significado
como se fossem totais e infindáveis.
Aqui em cima
quando o coração olha o horizonte
enxerga nele quem muito se ama
a saudade vem muda e certa
e desejamos levar um pedacinho de nuvem
para quem está longe
como presente de lembrança
mas é tão difícil descer para alcançá-las.
Aqui em cima
somos todos mais puros
e os homens são como os anjos:
vivem num céu de brinquedo e mistério
a contemplar belezas inimagináveis.*
05/01/97 02:05
Campos do Jordão
Jailton Matos
sábado, 21 de abril de 2012
O
ponto.
A
vida
a
arte
o
grito
o
gol
a
luz
o
escuro
o verde
a
pedra
a
selva
o
mármore
a
guerra
a fé
a
noite
o
sonho
o
engano
a
verdade
o
barco
a
vela
a
chama
o
ontem
o
presente
o
porvir
a
casca
a alma
o relógio
os sapatos
o celular
o óbvio
o
subliminar
a história
a laranja
o sangue
o espaço
a palavra
a dor
o amor
o fôlego
o êxtase
a morte
o ponto
·
Pronto.
2005
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Sou
uma alma atormentada
cansada
destas guerras vãs
contra
tudo, contra todos
(das
quais sempre saio perdedor)
nas
quais sempre tenho muitas perdas
a
maior delas, a do caráter.
Sou
uma alma atormentada
fatigada
por tantas desilusões
por
nunca conseguir discernir
o
real e o imaginário na vida
nos
sonhos, nos corações e mentes.
Sou
uma alma atormentada
(às
vezes sou o mais feliz dos homens
e
isto se deve à minha pequenina
estrela
de brilho intenso
que
clareia e traz cor
a
este meu mundo acinzentado
mas
quase que por todo o tempo
sou
mesmo uma alma atormentada)
e
não consigo reter comigo a felicidade
por
mais do que alguns minutos
(ainda
que eu muito me esforce
ela
insiste escapar de meu alcance
como
uma criança pirracenta).
Sou uma
alma atormentada
oprimida
por anseios e deveres
estigmatizada
pela superestima
perseguida
incansavelmente por cobranças
acusada,
julgada, condenada
castigada
por ser apenas humana.
06/11/05
quinta-feira, 12 de abril de 2012
A tinta
escorre da caneta
Como sangue de
um corpo ferido
Ou lágrimas
que rolam ao acaso.
O papel
insiste em sorvê-los
A tinta, o
sangue e as lágrimas
E com eles
sorve também
lentamente
minha vida.
O resultado
não são sentimentos de Shakespeare,
Apenas
palavras confusas
Frases
mal-traçadas
Sem aparente
sentido ou lógica.
Meus lábios,
secos, há muito
Já não
conhecem outros.
Há muito o
gosto amargo
da solidão
permanece
inerte em
minha boca.
Fujo
desesperadamente da realidade
Como o homem
foge da morte.
Não há nenhuma
fuga,
Os fantasmas
da consciência
Me perseguem e
alcançam
E sofríveis
memórias retrovisuais
Me tomam de
assalto.
Concluo que
neste mundo
Que perdeu
toda a lucidez
(os poetas
nunca a tiveram)
a única saída
é retornar
ao papel, à
caneta, e permitir
que dela
continuem a escorrer
as gotas de
minha vida
e suas
palavras confusas
me façam
entender
esta
inexplicável vontade
de viver.
18/08/95
O Livro e a América
Talhado
para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
"Da minha eterna oficina...
"Tira a América de lá".
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
"Da minha eterna oficina...
"Tira a América de lá".
Molhado
inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando
em torno então brada:
"Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas — pra terra,
As estrelas — para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os
firmamentos!!!"
E Deus responde — "Marchar!"
"Marchar! ... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteon?...
Marchar co'a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo. . .
— Com as garras nas mãos do mundo,
"Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas — pra terra,
As estrelas — para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os
firmamentos!!!"
E Deus responde — "Marchar!"
"Marchar! ... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteon?...
Marchar co'a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo. . .
— Com as garras nas mãos do mundo,
—
Com os dentes no coração?...
"Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
"No pugilato tremendo
"Quem sempre vence é o porvir!"
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
"No pugilato tremendo
"Quem sempre vence é o porvir!"
Filhos
do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou...
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou...
Por
uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por
isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Vós,
que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz! ...
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz! ...
Bravo!
a quem salva o futuro
Fecundando a multidão! ...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Fecundando a multidão! ...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Castro Alves
terça-feira, 10 de abril de 2012
A Nova Seção
Solicito
desesperadamente aos jornais
deste
incógnito país que estudem
a criação de
uma nova seção nos tão
bem-requeridos
classificados em que
possam ser
publicados anúncios
de teor tal
qual este meu,
que já seria o
primeiro:
PRECISA-SE
URGENTEMENTE DE AMIGO.
Precisa-se de
amigo que atenda
estas
importantíssimas exigências:
que seja leal,
legal e sincero.
Que não minta,
mas de caráter verdadeiro.
Precisa-se de
amigo que seja parceiro
em momentos
felizes bem como infelizes,
que
compartilhe as glórias e a vergonha,
as crenças, os
sonhos, os ideais,
as
confidências, as esperanças, as dores.
Precisa-se,
procura-se um amigo
que não traia,
que não mude, que jamais
fuja de suas
responsabilidades de amigo.
Amigo que não
seja falso, que não
se compre como
os do disks e teles.
Procura-se,
precisa-se de amigo
que se não
souber dar palavras,
dê o gesto, o
sorriso, a presença.
É condição
sine qua non
que nunca
decepcione profundamente.
Amigo que
saiba respeitar a quietude
e a
privacidade de nosso silêncio.
Que nos dê o
valor que lhe damos,
que nos ame
com a mesma intensidade
e lucidez que
é amado por nós.
Enfim, fraterno
amigo que se apegue
religiosamente
‘mais que um irmão’*,
que esteja
sempre e sempre disposto
aos sofríveis
sacrifícios da amizade
e que o faça
de bom grado.
Solicito
gentilmente ao amigo que venha
e aos
diretores e redatores-chefes
que levem a
sério este meu pedido
e criem o dito
espaço que atenderá
nossa
necessidade de fugir dos mais
terríveis
sentimentos, como a solidão.
24/07/95
* Provérbios 18 : 24
Amanhã
No futuro haverá almas
belas, puras e intactas
escapando entre ruínas
do magnífico apocalipse.
No futuro haverá trabalho
livre da selva capitalista
ou do inferno vermelho
tornando escombros em jardins.
No futuro haverá mortos
ressurgindo das trevas
e do frio esquecimento
aprendendo a eternidade.
Haverá, no futuro, a síntese
realizada dos nossos sonhos
e a outorgada perfeição
perdida fará dos homens
criaturas de amor e tempo.
02/10/97 13:53
Espectro e luz
raio de lua, luar
bruma nua
pantera do tempo
do vento
pequenina biruta
diminuta aurora
perdendo-se sempre
rumo ao entardecer.
Subjetiva visão
olhar penetrando
congelando teto e chão
riscando em fogo
condoído, impetuoso
céu rubro e cinza
tornando mais notável
silenciosa solidão.
?/09/96
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Há Coisas
Há coisas sobre mim
que nem eu mesmo sei.
Por exemplo, sempre pareço
mais feliz e satisfeito
quando estou sofrendo.
Há coisas sobre mim
que ninguém sabe
e se soubessem me entenderiam
talvez, ou talvez nunca.
Há coisas sobre mim
que só você sabe
e bem por isto
já faz parte de mim.
Há sobre mim coisas
que não controlo
nem posso controlar
nem controlaria se pudesse.
Há em mim um pouco
da essência de todos os metais.
Há em mim este insustentável
orgulho, intrínseco aos mortais.
Há em mim o fascínio
pelo tempo e seus efeitos
e pela tirania e fatalidade
com que governa nossas vidas.
Há em mim a ardente
paixão terrena que me escraviza
e marca a ferro em brasa
de sua propriedade.
Há em mim a coragem
e o destemor para a luta.
Há em mim o medo
e isto é o que mais me assusta.
17/09/96 0:00
della Rosa
CONCENTRAÇÃO
Voar e divagar
acelerado ou devagar
nunca levou ninguém
a nenhum lugar.
Há que se fincar
pés e alma também
e só em um afixar
concentrado esforçar.
Nada deve distrair
do domínio duro e atroz
da atenção à direção
que teu puro fascínio
veloz deve seguir.
Ah! míopes olhos
que se perdem todos
tolos e medíocres
em seus espólios
que nada valem.
Ainda que do vexame
escapassem ilesos
indefesos se tornariam
se em conta levassem
que se finda o exame.
02/10/04
domingo, 8 de abril de 2012
O VIAJANTE
Faço viagens constantes ao país dos sonhos
onde tudo é belo e estranhamente ideal
desconcertantemente irreal como moscas volantes
ou panteras aladas em brumas envoltas.
Sigo atravessando pontes de madeira
de cidadezinhas mineiras me chamando
pontes de madeira tão antiga quanto se possa saber
em cidadezinhas sossegadamente mineiras
cheirando queijo e leite fresco e terra de montanha
pontes de madeira ou concreto
armado e tijolinhos de barro
que cruzam rios e córgos lerdos, errando entre pedras
que cruzam rios e córgos lerdos, errando entre pedras
tranquilamente mineiros nascendo e
fugindo
eternamente nas matas em Serra da
Mantiqueira.
Faço viagens constantes ao país dos
sonhos
tantas que já tenho até cidadania
nele
e onde cogito sério fixar
definitiva residência.
Sou recebido por colibris e tucanos
e peixes dourados nadando
no ar como se houvessem brincar
de inverter o sentido correto na
ordem natural das coisas.
Faço viagens constantes ao país dos
sonhos
e muitos vezes me perco em
fronteiras confusas
não sabendo se o que hora vejo é
real ou imaginário
e titubeando indefinidamente entre
escolhas tristes
como o optar pela fuga ao invés de
pelo concreto.
O concreto às vezes pode ser mais
fantasioso
mas a beleza ultimamente não tem
sido muito lúcida
e todas as pessoas precisam e
merecem um refúgio.
Fiz de minh’alma meu refúgio
insólito e voraz, extremamente
agressivo com os que ousam
penetrá-lo sem convite ou
compromisso de lealdade.
Porém tudo serve apenas para
defender
esta terra sagrada de belezas
impensáveis
também impalpáveis, mas não tomo em
conta
visto conseguem me proteger e
agasalhar-me o espírito.
Faço viagens constantes ao país dos
sonhos
e tento encontrar em investigações
amadoras
a razão honesta de um modelo que se
fará
o único completo ainda que em
brumas envolto.
22/04/05
della Rosa
della Rosa