terça-feira, 24 de março de 2015

Paixão Lusitana: Paixão por escrever



Puxei o teclado para mim para escrever sem destino e lembrei-me, então, de como gostei de aprender a escrever. Agarrava no lápis com a sofreguidão de um primeiro amor e desenhava traços e círculos numa construção de palavras e logo frases que primeiro significavam coisas, depois passaram a contar coisas acontecidas, até que puderam ser elas próprias lugares, ideias, sentires ...
Nem o martírio do aparo e do tinteiro me abrandaram no prazer da escrita. As nódoas azuis na bata matinalmente imaculada pela lixívia, eram as testemunhas do correr feliz do aparo pelo caderno de linhas vigiado pela sr.ª Dona Lucinda.
Um dia passei a escrever sonhos lindos, parecidos com as histórias que entretanto aprendera a ler. E escreveram-se diários sem conta: amizades feitas e desfeitas, amores e desencontros, acontecimentos e tudo o mais que fosse digno de registo fechado à chave. Pelo meio umas contribuições para os jornais da escola e para revistas infantis e juvenis enchiam-me de orgulho e muitas cartas, também, me saíram das mãos: para os primos do Brasil por encomenda da avó, para amigos estrangeiros conhecidos através de outros, emigrantes, postais de férias, de aniversário e, mais tarde, as cartas de amor!
O meu pai ensinou-me, ainda pequena, a escrever à máquina numa Royal, agora objecto de decoração e de memórias lindas. Mais tarde, rendi-me sem grande esforço aos teclados dum Xpectrum, dum Mac e outros que se lhes seguiram, mas sempre com a cumplicidade de umas quantas Bics. Tenho de escrever sobre assuntos profissionais, frequentemente, e faço-o com agrado. Mas este gosto da escrita pela escrita ... ah! esse faz-me encontrar novos sentidos!
E dou a voz do meu sentir a um poema de Assim:


poetas

já viram um poeta escrever?
fascinante!
todo ele é voz
é movimento
o corpo baila em torno da mão
num eixo que ela mesma traça
é o poema, vivo
as palavras que ficam
são a penumbra imagem do momento
e se recria se outro poeta as lê.

já viram um poeta ler?
fascinante!
todo ele é voz 
é movimento 
o corpo baila em torno dos olhos
num eixo que eles mesmos traçam
é o poema, vivo
as palavras, se abandonadas 
são a penumbra imagem dos momentos
quando um poeta escreveu
e outro leu


antónio assim d'oliveira

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