Ela dispensa apresentações. Adriane Garcia acaba de lançar seu 2º livro apenas, mas já é um dos nomes mais celebrados da poesia contemporânea. Nesta entrevista ela mostra porque, além de dar uma aula sobre consciência poética. Confira:
T&QP – Adriane Garcia, fale-nos um pouco sobre você?
Adriane Garcia – Nasci em Belo Horizonte, tenho 41 anos, sou
funcionária pública federal e sou graduada em História pela UFMG e pós-graduada
em arte-educação pela UEMG.
T&QP – Como é ser mãe e poeta? Você
gostaria de ver uma filha se tornar poeta?
Adriane Garcia – Ser mãe e ser poeta são atividades que se
interpenetram. A maternidade dá uma profundidade ao olhar, pelo menos ao meu
deu. Eu passei a olhar as outras crianças de uma forma muito mais solidária
depois que fui mãe. E a poesia, ao menos a minha, se alimenta da solidariedade.
Se minhas filhas se tornam poetas, acho lindo isso porque estimulo nelas todas
as artes e creio que trabalhar a palavra com mais consciência e imaginação é
algo de boa semente no mundo. Mas deixo que elas sejam o que quiserem, desde
que não façam mal ao outro.
Adriane Garcia – Sou panteísta. Meu Deus é uno, cósmico,
total. Sou extremamente religiosa, apesar de não ter religião.
T&QP – Vamos falar de literatura? Como a poesia entrou em sua vida?
Adriane Garcia – Num livro de Cecília Meireles, quando
aprendi a ler. Ou Isto ou Aquilo. Encantei-me com a música que havia neles. As
palavras cantaram e eu já gostava de magia.
T&QP – Você escreve algo
além de poesia?
Adriane Garcia – Sim, tenho dois livros de contos, inéditos,
que um dia publicarei. Vou mexer mais neles. Tenho um infanto-juvenil de prosa,
um infantil em versos e quatro de dramaturgia infanto-juvenis.
T&QP – Quem te acompanha sabe de sua
admiração por João Cabral de Melo Neto. Como você explica a influência dele em
sua obra?
Adriane Garcia – Não posso dizer que a influência dele em minha obra
seja notável, porque me considero mesmo uma aprendiz e que ainda não alcancei
um trabalho de tanta consciência com a palavra. Mas considero que sua
influência existe em cada poema que reescrevo, porque é quando reescrevo que
meço e domo. Não gosto de excessos de adjetivações, excesso de advérbios,
principalmente os de modo. Procuro uma poesia que faça sentir, mas que,
principalmente, faça o leitor visualizar. E esta força é do substantivo e do
verbo.
T&QP – Em
2013 o seu Fábulas Para Adulto Perder o
Sono venceu o Prêmio Paraná de Literatura. O que isso mudou para você? Na
sua visão, quão importantes são concursos como esse?
Adriane Garcia – Mudou quase tudo o que tem a ver com
visibilidade. O que estes concursos fazem, e no caso o Prêmio Paraná é de
completa lisura, é revelar o autor ao meio literário. E isso é muito
importante. Escritores que publicam seus trabalhos querem ser lidos e a
afirmação contrária é absolutamente absurda.
T&QP – Você acaba de publicar mais um
livro, O Nome do Mundo. Que Adriane
Garcia o leitor vai encontrar neste novo trabalho?
Adriane Garcia – Densa, séria, reflexiva e que convida a
pensar o mundo, não o meu, o dele através do que olho no meu.
T&QP – Você
é muito admirada por ser dona de um estilo peculiar de poesia. Você tem a real
dimensão da influência que você exerce sobre outros poetas?
Adriane Garcia – Não tenho esta dimensão. Minha poesia
procura comunicar, por isso é clara e objetiva. Ao mesmo tempo, tento não perder
elementos que fazem dela poesia, como gênero. Não quero negar a tradição, nem
ficar repetindo o que não cabe mais neste tempo. E também não quero inventar um
idioma que nasce apenas da minha vontade.
“Não serei o poeta de um mundo caduco./ Também não cantarei
o mundo futuro./Estou preso à vida e olho meus companheiros.”
Outro dia Carlos Felipe Moisés falou algo que considerei
genial: há grande diferença entre o novo e o estranho. Pois é, o novo me interessa, traz raízes,
nasce de algo. Eu nasci de algo. O estranho me é totalmente alienígena e não me
interessa como projeto.
T&QP – Como
você vê a poesia de hoje? É possível determinar uma corrente dominante na
poesia contemporânea?
Adriane Garcia – Não creio que haja correntes de domínio. E
aqui estou falando de poesia contemporânea apenas de nosso país, que é o que
está mais perto de mim e eu poderia falar alguma coisa, sem pretender a
verdade, mas uma reflexão. O que há, sem dúvida, são grupos e grupo dominante.
Mas aí não é uma questão apenas de poesia, mas uma questão de política, que
envolve, muitas vezes, tudo o que o alcance do poder envolve. A poesia
contemporânea é, no seu conjunto, e só poderia ser, o reflexo do mundo
contemporâneo: diverso, caótico, líquido, perdido, vulgar, vazio, consumista,
desesperado. E na resposta à imersão neste mundo, a poesia é construção,
destruição e, por vezes, resistência.
T&QP – Na
sua visão qual deve ser o papel do poeta na sociedade?
Adriane Garcia – Fazer sentir e ver. Chamar a pensar.
Oferecer beleza num mundo feio. Oferecer um mundo feio para o mundo feio se ver
feio. Encantar pela Língua.
T&QP – Defina Adriane Garcia.
Adriane Garcia – Alguém
que ama. Muito.
T&QP – Defina a obra de Adriane Garcia em
uma palavra.
Adriane Garcia – Comunicação.
T&QP – Que mensagem você gostaria de
deixar para a posteridade?
Adriane Garcia – Cuidem das crianças.
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Você pode acompanhar a autora na web pelo
Blog: Adriane Garcia ou Facebook : Adriane Garcia
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1 comentários:
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