terça-feira, 16 de abril de 2013


Neste momento em que o mundo está mais uma vez mergulhado no caos, na dor e no horror do terrorismo, é melhor lembrarmos do velho mestre Drummond:



Entreato de Paz

As partes conflitantes decidiram
suspender a matança
e por entre ruínas e cadáveres
instaurar a esperança.

A morte, agradecida, pisca um olho
– "Era um trabalho louco
ceifar de ponta a ponta essa Indochina..."
Vai descansar um pouco?

Em vinte e três artigos e parágrafos
a sorte se resolve,
mas quem morreu sem culpa e sem aviso
esse nunca mais volve.

Neuróticos, descrentes, mutilados
– firma-se o protocolo –
volvem, de saldo, os prisioneiros: medra
medrosa flor, no solo.

Fraca se torna a força mais turuna,
incapaz a granada
de repetir efeitos conclusivos:
recolhe-se empatada.

A guerra não é mais aquela forma
de consertar o mundo
ao nosso estilo ou vista filosófica
ou apetite fundo?

Alguma coisa mais existe, e barra
a fúria belicista;
Uma coisa sem nome definido,
poder que não se avista.

E essa coisa ressurge quando a bomba
parecia extingui-la
e ninguém lhe destrói a coice d'armas
a essência tranqüila.

A guerra perde a guerra, e a vida ganha
direito de viver
Mas amanhã revive a velha história:
matar para vencer?

Este round, viva a vida! nós ganhamos
Contra o poder da morte.
A paz, de asas feridas, tão mais débil,
revela-se a mais forte.

Uma lição se colhe de tudo isto,
ou nenhuma lição:
alcançará o homem, bicho estranho,
ser de si mesmo, irmão?


Carlos Drummond de Andrade

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