Paulistano, 60 anos, morador de Embu das Artes, casado há
mais de quarenta com (palavras dele) “a linda Marcia”, pai de Renata e Luciana.
Este é Nelson Bortoleto, poeta de talento definido, que possui uma visão
peculiar da vida e da poesia. Toda & Qualquer Poesia teve o privilégio de um
bate papo com esta “figura” do meio literário. Confira agora o resultado.
por JM della Rosa
T&QP – Nelson Bortoletto, como é a
experiência de estar casado há 40 anos? Qual é o segredo de um casamento de
sucesso?
Nelson Bortoletto – Sou de uma geração
estranha. Por um lado o sentimento de liberdade, a revolução sexual e de
costumes, Beatles, Rolling Stones, Martin Luther King, Guerra do Vietnam, etc.
Por outro os valores mais tradicionais de família e convivência cívica. Eram
outros valores. Inclusive nas relações afetivas. Deve ser por causa disso.
T&QP – A poesia já prejudicou o seu
relacionamento?
Nelson Bortoletto – O relacionamento foi
muitas vezes difícil por conta da boemia, mas nos damos amorosamente.
"Não gosto dos minimismos, do poema que tem que ser decifrado como a um hieróglifo." |
T&QP – Qual é a sua profissão?
Nelson Bortoletto – Atualmente sou diretor
comercial de uma Empresa de Execução e manutenção de áreas verdes, em São
Paulo. Ao longo da vida, sempre fui metalúrgico na área comercial.
T&QP – Por que Embu das Artes?
Nelson Bortoletto – Na verdade não escolhi.
Mudei-me para lá em 2009 por razões profissionais (proximidade do trabalho) e
acabei ficando, mesmo depois de me desligar da tal empresa. Gosto dos amigos
que fiz por lá, músicos, pintores, poetas, atores, palhaços, bêbados, boêmios
de toda ordem... um manancial de temas para poetar!
T&QP – Nelson Bortoletto acredita em Deus?
Nelson Bortoletto – Acredito, sim. Numa
Inteligência criadora e incomensuravelmente poderosa, da qual sou parte
integrante e com uma função a cumprir na ordem geral do Universo. Tendo a
estudar a Teosofia.
T&QP – Falando de sua carreira, quando
você começou e o que te levou a escrever?
Nelson Bortoletto – Desde pequenino, nas
redações escolares. O gosto pela leitura, a curiosidade sobre as coisas do
mundo, minha paixão pelas pessoas e coisas, finalmente me levaram a exercitar a
construção de poemas.
T&QP – Você já pensou em parar?
Nelson Bortoletto – Já pensei em parar, mas,
não consigo. Às vezes irrito-me com o fato de que as pessoas (na média) não
foram educadas para a leitura mais reflexiva e isso me deprime um pouco.
T&QP – Além de poesia, o que mais você
escreve?
Nelson Bortoletto – Sou amador. Às vezes
escrevo prosa poética, crônicas, pensamentos... tudo o que me vem à cabeça sem
formalismos de nenhuma natureza. Escrevo até palavrão!
T&QP – Qual é o seu poeta preferido?
Nelson Bortoletto – Os grandes. Seria uma
injustiça exaltar um ou outro. Prefiro sempre os que escrevem com simplicidade,
sem refinamentos inúteis, por exemplo: Mario Quintana, Drummond, Manoel de
Barros, Manuel Bandeira, Cora Coralina, Cecília Meirelles e muitos outros.
T&QP– Fale um pouco de como foi sua
experiência independente.
Nelson Bortoletto – Meu livro é uma modesta
brochura em que fui autor, revisor, diagramador e desenhei a capa e encadernei
à mão! O nome é “Falando da Vida“. Eu os vendi a turistas, na rua.
T&QP – Quais são seus projetos atuais?
Nelson Bortoletto – Tenho convite para
publicar mais. Um deles já está pronto, é só imprimir. Não tenho editor, é
difícil um que invista num poeta desconhecido.
T&QP – Como
você vê a atual produção poética de língua portuguesa?
Nelson Bortoletto – Não
gosto dos minimismos, das ideias confusas, do poema que tem que ser decifrado
como a um hieróglifo... isso agora virou moda, mania de pseudointelectuais.
T&QP – Sempre houve muita intriga e
discórdia no meio literário. Além da questão dos egos, aqueles que estão engajados
em determinado movimento poético ou fazem um tipo específico de literatura
usualmente consideram aqueles que não se enquadram nele como menores, ou, de
outro lado, ultrapassados. Foi assim, por exemplo, quando surgiu o Modernismo? Como
você vê toda esta questão? Você acha possível, por exemplo, um poeta escrever
poemas longos ou mesmo fazer rimas hoje?
Nelson Bortoletto – Escrevo o que me dá na
telha, com ou sem rima, com ou sem métrica, versos ou Inversos, desde que façam
sentido. Não sou contra nada, gosto ou não. Se não gosto, leio uma vez só e não
recomendo. Afinal, não se pode criticar o que não se conhece. Não acredito em
“movimentos”, os rótulos são adotados pelos mais obtusos, que não têm recursos
para viajar de várias maneiras. Estilo é uma coisa tão pessoal, que não
justifica rótulo.
T&QP – Nelson Botoletto já se acostumou
com o Novo Acordo Ortográfico? O que pensa dele?
Nelson Bortoletto – Sou coroa! Difícil me
acostumar, mas tento. Quanto ao acordo, acho que tira um pouco o brilho das
diferenças culturais e linguísticas, prefiro pesquisar aquilo que não
compreendo e isso leva, não só ao conhecimento, mas ao ecletismo.
T&QP – Que papel você acha que desempenha
a internet na divulgação da literatura lusófona?
Nelson Bortoletto – A internet é um avanço
espetacular na difusão do conhecimento, pena que seja tão mal utilizada pela
maioria dos bilhões de usuários. E já que falamos em lusofonia, pra que reforma
ortográfica, se cada lusófono é único?
T&QP – Como você acredita será o futuro da
poesia?
Nelson Bortoletto – Depende do que os governos
fizerem da educação. Do jeito que ela anda, não vejo nenhum futuro, do ponto de
vista acadêmico, mas enquanto poesia certamente sobreviverá.
T&QP – O que é que te inspira?
Nelson Bortoletto – A vida, suas humanidades e desumanidades. A
existência do grande espírito que governa o mundo, sem o que não passamos de
animalidades.
T&QP – Defina Nelson Bortoletto.
Nelson Bortoletto – Um cara normal, que tem
sensibilidade para enxergar de um modo peculiar a vida e o dom de escrever a
respeito.
T&QP – Defina a obra de Nelson Bortoletto
em uma palavra.
Nelson Bortoletto – Pequena.
T&QP – Que mensagem você gostaria de
deixar para a posteridade?
Nelson Bortoletto – Eu amei o mundo!
Deu-me o destino
A incumbência de gostar das palavras,
Porque, por trás delas há o mundo
E o mundo é fascinante.
Eu as utilizo num rompante,
Pois medi-las é só retórica.
Não há nenhuma palavra histórica
Que não tenha atrás de si, o Homem.
E se o homem é Semelhança,
Que permaneça criança
Para não medir as palavras.
- Nelson Bortoletto
Se você desejar acompanhar o poeta visite seu perfil no Facebook: https://www.facebook.com/nelson.bortoletto